José Conteiro

“É só fazer as contas”

19 Jul 2022

Ficou célebre aquela frase de um antigo primeiro-ministro português e político de craveira internacional. Ele esqueceu-se de perguntar ao jornalista se estava à altura daquela tarefa. Devo à Marinha de Guerra o gosto que adquiri pela Matemática. A especialização que lá adquiri em Eletrónica (duração de três anos) teve como suporte essa disciplina e fiquei com a sensação que quanto mais se pratica, mais se gosta e, em certos aspetos, essa relação é em exponencial. Fico triste quando os meus netos manifestam algum enfado quando proponho dar-lhes explicações dessa disciplina.

Há novidades nos programas de Matemática orientados para as novas profissões. De tanto se inovar pode acontecer esquecer-se a Aritmética e Geometria elementares. É frequente ouvir um pedreiro dizer que vai “cubicar” o chão para calcular o número de mosaicos necessários para o pavimento. Por vezes calculam, a olho nu, o número de tijolos para um muro e tanto podem pedir 10% a mais como 10% a menos. Há algum tempo ouvi uma cliente num estabelecimento comercial, que pretendia uma credência com 35,5 centímetros de altura. Perante a admiração do vendedor pela solicitação de uma credência tão baixa a senhora explicou-se melhor. Afinal o que ela pretendia era um móvel com cerca de 90 cm de altura. Tinha utilizado a escala das polegadas em vez da escala centimétrica. Não tinha a noção do que eram centímetros nem polegadas, nem sabia utilizar uma fita métrica.

Tive um estabelecimento comercial e verifiquei que, perante determinado valor duma compra, muitos clientes não sabiam calcular, mentalmente, quanto teriam de pagar de cada vez se o montante fosse dividido por 10 prestações.

Os manuais escolares, e alguns professores também, não ajudam muito. No manual Matemática em Ação do 7.º ano do Ensino Básico (certificação lei 47/2006) há equações impossíveis em N, e com idades negativas e irracionais. Isto, na minha ótica, desmotiva o aluno na busca de uma solução que, afinal, é impossível. Há dias, um dos meus netos chegou a casa e perguntou-me se era possível a distância de 1 850 quilómetros, em linha reta, entre Lisboa e Madrid. Disse-lhe que não e ele lamentou-se, afirmando, que já tinha errado essa pergunta num teste. Afinal acertou na resposta porque o professor tinha fornecido os dados de cabeça, sem se preocupar com a sua correção. Não se admirem se todos aqueles alunos memorizarem aquele valor errado, porque é sabido que o aluno tem tendência a fixar o que aprende pela primeira vez. Mesmo que esteja errado.