No meu último contributo para este espaço falei da “Tempestade Perfeita” que se vinha formando à nossa volta, um acumular de fatores políticos, económicos e financeiros, numa fase “final” de uma pandemia global que contribuem para os difíceis anos que temos pela frente. Longe estava eu de pensar que iríamos ter o “furacão Putin” a soprar ventos (e mísseis) de leste.
A invasão russa à Ucrânia, apesar de distante, representa um impacto significativo na nossa vida. Desde o impacto visual das imagens diárias que nos chegam via televisão (já agora e compreendendo que seja difícil, sugiro desligar a TV ou limitar a sua utilização), até às chamadas de atenção para ações de solidariedade que despontam um pouco por todo o país e pelo mundo, é inegável que a nossa vida está diferente e vai piorar.
A questão que abordo aqui vai um pouco mais além de temas “militares” e “geopolíticos” que ouvimos por estes dias repetidos nas rádios e TVs. A invasão da Rússia, com todo o seu poderio militar e económico, muito superior à invadida Ucrânia, não é apenas sobre esta última. É um ataque militar e uma declaração de guerra à Europa, ao modo de vida europeu, à democracia e à liberdade! E isto representa um ataque a todos e a cada um de nós.
Nunca os devaneios de um líder imperialista e mitómano, com saudosismo da ex-união soviética, que invade um país soberano sob uma construção de argumentos própria, podem ter lugar hoje em dia. Nem nunca outras invasões e guerras justificam a atual invasão e agressão à Ucrânia. Como disse Miguel Esteves Cardoso em coluna de opinião: «A invasão da Ucrânia é a invasão da Ucrânia». E o facto de ter acontecido é uma falha grave da liderança política europeia e mundial.
E enquanto estes falham, são as pessoas que mais sofrem. É cada um dos residentes na Ucrânia, que se escondem em buracos com pouca ou nenhuma luz, comida ou água. São famílias que se partem por agora ou para sempre. São refugiados que fogem das suas casas aos milhões para países que não conhecem, com línguas que não falam. Ou são daqueles que ficam e que morrem nos escombros de uma guerra que não pediram e que não compreendem.
Tomando a audácia de fazer uma adaptação livre do histórico poema de Bertolt Brecht: «Primeiro levaram os ucranianos, mas não me importei com isso. Eu não era ucraniano. Depois ameaçaram a Suécia e a Finlândia, mas não me importei com isso, porque não sou daqueles países. Agora estão a levar-me. Mas já é tarde. Como eu não me importei, ninguém se importa comigo».
Esta guerra também é tua e minha. É com cada um de nós e com a nossa liberdade. Hoje já não é só com a Ucrânia. Amanhã o que será?