Chovia torrencialmente. A GNR, galhardamente a cavalo, abria o cortejo fúnebre da trasladação dos restos mortais de Eça de Queirós. Continuei, anónima, entre turistas e portugueses que não percebiam o que se passava.
Nunca ninguém sabe. Vozes contra e a favor. “Nem morto o deixam sossegado”, “Para quê isto? E tanta flor! Mal empregadas”. Depois de esclarecidos (por mim): “Ah! Então está lá o Eusébio! Também pode estar este, O Crime do Padre Amaro”, o mais conhecido. Perguntei porquê. O anticlericalismo veio à conversa. Sem querer ou por querer lembrei-me de Julião Tavares personagem com falta de carácter que se destacou pelas suas críticas contundentes à Igreja Católica. Ainda existem. Dizem o mesmo.
Encontrei, ainda, alguns com a simplicidade do Cocheiro de Os Maias: “Isto de senhores ricos é coisa que nunca muda, mas quem trabalha é que sofre”. Não disseram exactamente assim, mas quase.
Pensei com os meus botões: como escreveria Eça sobre a actualidade? Como consegue, ainda hoje , inspirar e confirmar o Homem do povo em permanente tensão com as diferentes classes sociais e a complexidade da vida urbana. Como conseguimos concordar com Eça quando no “Conde de Abranhos” afirma “o povo precisa de líderes que pensem por ele, pois pensar é um luxo que poucos podem pagar” ou ainda “a moral é uma bandeira que se agita ao vento das conveniências”. Sem dúvida um escritor que cria personagens capazes de ironizar e satirizar a sociedade portuguesa do século XIX. E não só.
Apesar de ser leitura obrigatória no Ensino Secundário encontrei poucos jovens. Será que gostam de Eça? Concordam com ele? Lamentam-se ou lutam? Criticam ou constroem? Votam e escolhem ou deixam que os mais velhos o façam por eles? Eça acreditava que Portugal precisava de se abrir ao mundo e aprender com novas Culturas. Ele fez esse percurso. Viajou e trabalhou fora do país mas voltou e tentou agitar as águas . Jovens, aprendam com Eça.
Emigrem mas votem.