Flávio Ulisses Cardoso

Festivais, cogumelos de Verão

29 Ago 2022

Chegou o Verão e os Festivais populam que nem cogumelos! Imensos pelo país fora. De Norte a Sul passando por todos os outros pontos cardeais. Com patrocínio das grandes empresas, organizado por outras da área ou apenas por vontade e carolice dos seus habitantes. Pois bem!

Pois bem! É deste último formato que me irei debruçar um pouco.

Bem perto de nós existe um bem especial e no qual já tive o enorme prazer de poder participar por duas vezes – na sua génese e, 10 anos depois, como representante dessa 1.ª edição. Falo do Festival Bons Sons – Vem Viver a Aldeia.

Cem Soldos é uma aldeia que dista derca de 5 Km a oeste de Tomar, com cerca de 1000 habitantes e que, chegando ao segundo fim de semana de Agosto, aumenta para uns incríveis 35000!!!

Em 2006, um grupo de jovens imaginaram uma festa para a sua aldeia com um formato invulgar ao comum das festas de aldeia. Como disse o poeta: “o Homem sonha e a obra nasce”, e assim nasceu o Festival Bons Sons.

Na primeira edição, e sempre com o intuito de defenderem a música portuguesa e os artistas lusos, fugindo ao “discurso da terrinha” apresentaram um cartaz para cerca de 15000 festivaleiros, com nomes como Desbundixie, Toques do Caramulo, Bácoto, Tukanas and Skareta, entre outros. Desde essa data que, tanto o número de concertos bem como o de espetadores, foram subindo vertiginosamente mas de forma sustentada, criando receitas para a região de cerca de 4 milhões de euros.

O que de início se vaticinava ter “tudo para dar errado” enquanto projeto, “liderado por jovens voluntários”, tornou-se num caso de sucesso – o primeiro festival de música portuguesa numa aldeia. Enquanto músico português, apesar de fazer música de outras paragens, acredito que este festival em particular deu a relevância para qual o artista nacional trabalha e, como os números da assistência espelham, estes merecem ainda mais palco.

A arte é vista por (demasiadas) vezes como “desnecessária’” a uma sociedade economicamente competitiva e, consequentemente, os artistas não são reconhecidos por não ser possível auferir o que produzem. No entanto, como advogam vários autores ligados à antropologia e sociologia: a cultura é a riqueza de um povo! Acrescento que, numa sociedade tão e cada vez mais global, é a cultura que nos identifica e diferencia dos outros povos. É essa riqueza que deixaremos aos nossos descendentes.