Há sete meses que a Internet anda num alvoroço com a Inteligência Artificial (IA). As opiniões vão desde os entusiastas desmedidos que falam da oitava maravilha do mundo aos arautos da desgraça que anteveem a rebelião da IA contra a humanidade, qual Skynet do filme Exterminador Implacável. No entanto, convém recordar que o nascimento da IA não aconteceu no ano passado, mas sim há 70 anos. E já está mais presente nas nossas vidas do que nos damos conta. Do velhinho GPS Tom-Tom ao computador Deep Blue venceu Garry Kasparov numa partida da xadrez, a presença da IA está nas nossas vidas há décadas.
Quando fazemos uma pesquisa no Google há um algoritmo que decide os resultados que vamos ver. Quando seguimos a sugestão da próxima série da Netflix ou quando falamos com a Alexa estamos a lidar com IA. O que mudou agora? O ChatGPT, e todos os aplicativos que têm sido lançados nos últimos meses, democratizaram o acesso a uma ferramenta de conversação homem-máquina que não se limita a dar-nos links a partir de palavras chaves. Permite-nos fazer perguntas complexas e ter respostas detalhadas e articuladas. E isso está a ter impacto em todos os sectores de atividade, desde o mundo empresarial, que vê aqui uma forma de aumentar eficiência de processos, ao meio artístico, com aplicativos que geram imagens, vídeos, canções, etc. As questões éticas e as dúvidas sobre o impacto na humanidade, nomeadamente na ameaça ao emprego, é algo antigo. Se quisermos podemos recuar até à Revolução Industrial na Inglaterra para termos os primeiros teares mecânicos queimados por trabalhadores que não queriam que a tecnologia os substituísse.
Por outro lado, temos tido evolução na ciência a um ritmo que seria impossível sem a IA a trabalhar os dados que a sociedade digital produz atualmente. E aqui podem estar coisas tão boas para a humidade como a cura para o cancro. Trabalho numa empresa tecnológica onde o ChatGPT já está integrado em processos e a ajudar-nos a trabalhar de forma mais rápida e eficaz. E sou uma optimista por natureza no papel que a
tecnologia tem tido e vai ter no desenvolvimento da humanidade. No entanto, ao nível da aprendizagem é inegável o impacto que já se está a sentir e com sinais alarmantes. Há dias ouvia um professor de ensino superior a dizer que há trabalhos a serem feitos integralmente pelo ChatGP. O que é que os alunos aprendem? Nada, copiam o texto sem o mínimo espírito crítico. E se a cultura do digital na sua pior versão, já cultiva há anos o clique de impulso e o consumo de informação em versão curta e irrefletida, estes últimos meses demos um salto em frente na potencialidade de atrofiarmos ainda mais a capacidade de pensamento crítico. Sim, porque a IA também se engana. E além disso, quase todos os problemas tendem a ter mais do que uma solução. Não é de nenhum Cyborg vindo do futuro que devemos ter medo. É de, paradoxalmente, com a Inteligência Artificial promovemos a estupidez humana.