Patrícia Santos

Não gosto? É “Fake News”

27 Fev 2023

Boatos, informações manipuladas e teorias da conspiração estão longe de ser um fenómeno recente. Os políticos sempre fizeram promessas irrealistas nas campanhas eleitorais. Grandes empresas sempre patrocinaram ações de comunicações favoráveis aos seus interesses. E os media há muito que publicam histórias chocantes, procurando com isso ganhar visibilidade. No entanto, a complexidade e a escala da difusão da informação no mundo digital abriu portas a novos desafios.

Desde a campanha para as eleições presidenciais norte-americanas de 2016 que o fenómeno das “notícias falsas”, fake news no termo original, entrou para o debate público pela frequência do seu uso, pelo aumento do seu impacto e pelas consequências nas democracias.

Tradicionalmente, a responsabilidade de escolha e validação da informação que chegava ao público estava centrada nos jornalistas que, com maior ou menor rigor, estão sujeitos a um conjunto de regras deontológicas. No entanto, no atual panorama online, as novas plataformas abriram o acesso ao espaço público a novos atores que, na sua esmagadora maioria, não têm códigos de conduta de referência, respondendo antes a emoções pessoais na decisão de publicar ou partilhar conteúdo. Os media digitais criaram oportunidades inéditas de disseminação das fake news. Não apenas pela criação de canais de difusão em grande escala, mas pela facilidade que a evolução tecnológica permitiu na criação de um site aparentemente credível ou na manipulação de imagens e vídeos. Desta forma ficou mais fácil a disseminação de conteúdos falsos, recorrendo a tudo o que permita um resultado vantajoso para o autor, suportados normalmente pelas crenças pessoais.

Juntando a isso os algoritmos que tendem a criar câmara de eco em torno de conteúdos alinhados com as nossas preferências há um efeito intensificador das crenças e um enviesamento de opiniões plurais e divergentes. Criou-se um novo mecanismo que, de forma intencional ou até involuntário, faz com que muitas pessoas deixem de aceitar ideias contrárias à sua opinião e passem a catalogá-las de fake news.

Uma consequência deste novo ecossistema informativo é a amplificação em larga escala de teorias da conspiração absurdas como o terraplanismo. Sim, chegamos a 2023 com milhões de pessoas a defender a teoria de que a terra é plana, apesar das evidências científicas que provam o seu contrário.

Curiosamente, o termo “fake news” foi apropriado pelos seus principais impulsionadores, políticos cuja cobertura mediática lhe era desagradável, procurando denegrir e enfraquecer a imprensa livre.

Nesta realidade os media tradicionais têm um papel ainda mais relevante enquanto faróis de informação credível. Podemos criticar os seus alinhamentos editoriais, mas um mundo em que eles deixem de existir é um cenário bem mais assustador.

Poder celebrar 40 anos de um jornal local como O Portomosense é, por isso, um momento de grande alegria. Uma comunidade será sempre mais rica tendo imprensa local! Parabéns ao “nosso” jornal!