Há uns tempos escrevi-vos sobre Orwell. Sou uma grande fã, mas “A Quinta dos Animais” não é o meu preferido. De todas as maneiras, é um livro com tanta ressonância, que a ele não escapamos. Se nos recordamos, a história fala-nos de uma quinta, onde os animais revoltam-se contra o tratamento exploratório dos humanos. No entanto, após conquistarem o poder, os dois porcos que assumiram a chefia acabaram por cair em padrões de comportamentos iguais ou piores.
Ora, como trabalho em política, estudo e escrevo sobre ela, não posso deixar de aludir à situação sui generis que vivemos. À data desta segunda-feira, 11 de março de 2025, um Governo Social-Democrata, com um ano de trabalho, deixou de estar em funções, pela não aprovação de uma moção de confiança. Vamos, portanto, muito provavelmente, a eleições legislativas. As terceiras, em três anos. Três eleições, em menos de um ano.
Porque vamos a eleições? Pergunta-se. Na verdade, atrevo-me a arriscar que poucos sabem. Porque, realmente, fazem muito pouco sentido, tanto pelo contexto político nacional e internacional, como pelo que as provocou. Não há indícios de crime, de nenhum membro do Governo em funções. Nenhum processo aberto.
Qualquer pessoa atenta ao noticiário já não consegue distinguir a verdade da mentira. Deputados do Chega, com responsabilidade de representação nacional, inventam empresas com alegados benefícios, que nunca passaram de projetos académicos, o maior líder da oposição mente sobre a empresa que efetivamente existe e que já não pertence ao Primeiro-Ministro.
Portanto, além de Orwell, hoje falo-vos de Bernard Shaw, dramaturgo inglês, que dizia para que não lutemos com um porco; ficamos todos sujos e o porco ainda gosta. Que a nossa Democracia saiba fazer a única “limpeza” que Portugal precisa, este lamaçal em que alguns agentes políticos a quiseram transformar.