O ruído do silêncio

8 Fevereiro 2025

Porventura a minha mocidade não se enquadra no cliché temporal que se segue, mas aqui vai: no meu tempo, a juventude portomosense era mais dada à música. Era frequente surgirem projetos, ideias, sons em tons diatónicos. Ter uma banda era sinónimo de prestígio, mesmo que contido; era fonte de orgulho em tocar para amigos e família, mesmo que o processo de aprendizagem se pautasse de momentos de frustração. Era um escape da monotonia, era reunir amigos e, em sintonia, partilharem gostos musicais, criarem memórias sonoras, prestando saudável vassalagem aos seus ídolos e até mesmo dando asas à criatividade com composições originais.

Um dos momentos altos do orgulho local foi a ida dos Feedback (que deram origem mais tarde aos Sangue Lusitano) ao programa Portugal Tem Talento da SIC, em 2011. Miúdos cheios de talento, enérgicos, inspiradores. Seria de esperar que tal acontecimento inspirasse uma nova vaga de músicos e bandas a brotar na região. Incompreensivelmente, parece ter marcado o momento do declínio. Quase 14 anos depois, o cenário é tristemente vazio de projetos. Concertos em Porto de Mós de bandas locais não é mais que uma memória que ecoa em silêncio.

O que levou o concelho a desligar o amplificador, a emudecer os acordes, e a juventude a pautar-se por coisas que não pautas? Estarão os jovens desprovidos de incentivo? Será o convívio digital suficiente para não sentirem necessidade deste tipo de experiências mais desafiantes? Estará o gosto pela música num declínio geral ou apenas contido dentro de insonoras quatro paredes?

Desculpem este meu exercício desconstrutivo, mas hoje apenas vos trago questões, não respostas. Não quero sequer que entendam isto como uma crítica, mas apenas como um lamento de um melómano. Não tem que haver culpa nem culpados, pode ser simplesmente o som dos tempos a mudar. Para os meus ouvidos, este silêncio musical portomosense é um ruído ensurdecedor.