Caríssimos leitores, escrevo desta vez com a intenção de vos alertar para os perigos da Rede Mundial de Computadores, ou simplesmente Internet. Atravessamos um novo risco, que é o das compras online. Não se sabe quando vos vai apetecer comprar uns sapatos da Chanel e acabam a receber um boné de lantejoulas ou sei-lá-o-quê. Mas não se preocupem. Eu, a Corajosa Cátia, manda-se primeiro aos leões para vos proteger no futuro.
Nos últimos meses tenho passado por uma fase de grandes infortúnios. O meu cérebro para lidar com os desgostos decide fazer compras extravagantes, como por exemplo um descascador de ovos cozidos, talheres com cabo de corda ou uma ventoinha para arrefecer o esparguete. Estou a brincar, pá! Por quem me tomam. Eu gastei dinheiro foi numa garrafa de metal. O que também não é muito mais útil. Mas era tão bonita. Estava apaixonada.
Tudo começou porque eu nunca as encontrei à venda em Portugal. Então fui procurar na maldita “internet”, se as vendiam por aqui perto. Eureca! Ali estava a garrafa. Roxa, com capacidade para 1 litro e um gargalo que é uma palhinha. Dinheiro? Chega e sobra. Comprei? Foi direto. “Hotel? Trivago”. Ora, lá sabia eu que estava perante uma armadilha. Momentos depois recebo um e-mail com uma transação aceite no dólar de Hong Kong. “O que fui fazer? O que vem aí? Um par de meias? Um animal? Um dedo? Mãe, fui roubada e ainda vou ser culpada. Prepara o meu testamento”. Só me restava esperar pelo que aí vinha. Já estava a caminho de casa.
Numa tarde, enquanto nas escadas bronzeava o fiambre da perna, o carteiro entrega uma encomenda do tamanho de uma bolsa. Eu era o destinatário. “Não pode ser”. Mas as provas estavam ali, o número da encomenda da garrafa era aquele. O pânico instala-se. De repente, sinto um calor a subir desde o sacro. O que será que está na caixa? Era suposto a garrafa ser maior que aquele pacote. “É leve. Não se ouve nada a chocalhar”. Abro-a como aquilo se tratasse de uma bomba de mau cheiro: de olhos fechados e com a cara virada para o lado. Dentro está outra caixa, desta vez preta e com um fecho. Tinha a letra C de CRIME estampado. “Ok, é agora que vou ser presa”. Deslizo o fecho, com muito cuidado, e abro a caixa. Aparece um saco… com um par de óculos de sol! Ufa!
Respiro de alívio porque não era uma perna de galinha, mas choro porque os óculos eram pequenos para a minha cabeça. Ao menos, já que me enganaram, que me dessem algo que me ficasse bem no focinho. Mas nem nisso tenho sorte. A minha infelicidade continua. Tenho de ir tomar outro banho de sal grosso. E eu, desta vez, responsabilizo não apenas a minha mãe, mas ambos os meus pais. Pediram-me para “esperar e ver”. E eu esperei, vi e chorei. Moral da história: desconfiem de tudo, até do vosso cão. Porém, se virmos o lado bom da coisa, eu assim tenho algo engraçado para vos contar.
“Um dia comprei uma garrafa e recebi uns óculos de sol”. Quem nunca, não é?