José Conteiro

Para refletir

6 Jun 2022

Mesmo fechados em casa (2021) devido à Pandemia, 61% dos portugueses não leram um livro. Os condicionalismos económicos não justificam esta anormalidade. Há por essas vilas, cidades, clubes e associações, centenas de Bibliotecas que não são frequentadas. Os seus serviços são gratuitos, mas muitos habitantes não sabem sequer dizer onde se localizam as instalações da biblioteca da terra onde vivem. É uma característica nacional. Na rua, nos jardins, nos transportes públicos, nas esplanadas etc, não se vê vivalma com um livro nas mãos. Curioso é ver e ouvir que todos sabem tudo.

O Xico da Reboleira, bate-chapas altamente qualificado, afirmava com convicção, batendo com o pé no chão e atirando com uma peça de ferramenta para cima da bancada, que nunca seria vacinado contra o COVID e justificava porquê.

O Zé Fagundes, que é um bom profissional em canalização, de quem se diz que também é o melhor podador de árvores na zona oeste, afirma que as “Terras Raras ” estão quase todas na Ásia e que, num futuro próximo, será uma arma importante nas mãos da China.

“O Manel do coice”, que tem a fama, ainda não comprovada, de ser o mais experiente matador de porcos a sul do Mondego, diz que as condições climáticas estão a sofrer alterações devido aos satélites artificiais que são colocados à volta da Terra e aos riscos (chemtrails) que os aviões, sob determinadas circunstâncias, deixam no espaço.

Também se constata que aqueles que, até agora, eram especialistas em COVID, são agora especialistas em armamento.

Por outro lado, um dia destes um jovem mostrava-me o seu contentamento por estar no primeiro ano de engenharia e que esperava vir a ser engenheiro eletrotécnico. Perguntei-lhe o que é a Voltagem e a Amperagem num circuito elétrico, mas ele não me soube explicar. Do mesmo modo não me deu explicações sobre a lei de Ohm que é elementar para um aprendiz de eletricista (Num circuito elétrico o valor da corrente elétrica (I) é diretamente proporcional à Voltagem (V) e é inversamente proporcional à Resistência (R) ou seja (I=V:R).

Pelo que fica dito, não se deve concluir que quem nada leu tudo sabe e quem leu um pouco nada sabe. O que se deve constatar é que, sobretudo na Península Ibérica, durante séculos, os poderes condenavam os “leitores como luteranos, impúdica espécie e gafados de heresia”. Depois, com alguma tolerância, esses poderes condicionavam o que se deveria ler. Agora que somos livres para ler e, em muitos casos sem custos, tardamos a adquirir hábitos de leitura.