No meu tempo de criança, só fiquei em casa uma vez por estar doente. Eu bem que fingia – aquecia o termómetro para aparentar ter febre, inventava dores de barriga –, mas tudo em vão. Não faltava a uma aula. A única vez que faltei foi por ter pintinhas vermelhas em todo o corpo. Não me dão gripe, não me dão febre… dão-me sim comichão em todo o lado como se tivesse caído num arbusto de urtigas. Além disso, era contagioso e por isso é que tive de ficar em casa. Passei o tempo todo encostada à lareira, a ver televisão. Bons tempos.
Mas antes de prosseguir confesso, por escrito, a minha revolta. Não me esquecerei do que me tiraram este ano. Já chegava bem os anos em que não fiz nada por causa da pandemia e ainda tinham de roubar as luzes de Natal? Da melhor época do ano? Do período em que tudo nos acolhe? Em que a escuridão se ilumina e em que as estrelas descem à terra? Tudo perdido e agora o que recebemos? Carvão nas meias como meninos malcomportados. Reflitam nisso, tá? O Pai Natal não merece.
Bom, voltando ao que estava a dizer, tirando o ataque de pintas, nunca mais tive de ficar em casa até aparecer o “cuvide”. Mas eu sei que esta pandemia vai ficar nos livros de História e vou contar aos meus netos que foi a pior época que vivi, onde os dinossauros voltaram e tivemos de ir viver debaixo de terra só a comer atum. Porém, tanto nos protegemos deste vírus que as nossas defesas devem ter desaparecido.
Toda a gente anda com uma tosse descomunal que mais parece uma sinfonia de Beethoven. Estava há uns dias na sala de cinema e uma pessoa tosse, segundos depois outra tosse e depois outra. Passado um tempo, estamos todos a tossir em sintonia como se fosse uma cantiga. Senti-me mais num concerto de música clássica do que numa sessão de cinema. Mas o filme era mau por isso não perdi grande coisa.
Dizem que este Inverno vai ser bem mais frio que nos anos anteriores. Seguindo a lógica da batata, e o Borda D’Água, como o Verão foi mais quente o Inverno será o oposto. Por esse motivo eu fui procurar soluções caseiras para as “doenças invernais”. Devemos comer frutos secos, canela, açafrão, vinho tinto (o meu remédio preferido), chá verde, alho, bróculos, couve e, obviamente, cenoura!
Por falar em cenouras, sabias que elas não são apenas cor de laranja? Pois é. Existem cenouras púrpuras, amarelas, vermelhas e, até mesmo, brancas. As cenouras laranjas foram criadas no século XVI pelos holandeses, que misturaram amarelo e púrpura. Imaginem terem misturado branco e púrpura. Uma cenoura violeta. Não comiam?
Bem, se elas me protegessem da doença eu comia, todos os dias a todas as refeições, mas não é o caso… ao contrário do mel. As abelhas são as nossas melhores amigas! Por isso é que me mantenho longe, não as quero magoar. Por isso mesmo, é nesta época que me lembro dos anúncios ao iogurte líquido da Danone. Eh pá! O que não dava por um bom Actimel. É que com Actimel o “Inverno pode ser como o Verão”.