Não desvirtuando os méritos advindos da liga metálica de cobre e estanho que revolucionou a metalurgia e a sociedade há cerca de 5 000 anos, este texto nada tem a ver com história ,e muito menos com esse tipo de bronze. Por oposição, em vez do toque frio do metal, falemos do toque quente da pele. Melhor ainda, do toque quente na pele, oriundo de uma bola de fogo do tamanho de 100 Terras, em explosão nuclear permanente, e na resultante radiação letal que nos abraça o planeta, sob a máscara inocente de um solarengo dia de verão. Outrora um símbolo associado ao trabalho rural e à pobreza no mundo ocidental, a pele bronzeada começou a inverter o seu estatuto há cerca de um século. O abominável tom escuro passou a dourado luxuoso. Com o declínio do trabalho no campo e a ascensão do trabalho de escritório, a pele melanizada deixou de ser “coisa de pobre”, mas sim “privilégio de rico”, com tempo livre para estar ao sol. Os inegáveis benefícios da exposição solar, como a produção de vitamina D e estimulação do humor, bem como a associação da pele bronzeada a atividades desportivas ao ar livre, trouxeram uma imagem de excessivo poder curativo ao beijo do rei Sol, que infelizmente escondeu os seus perigos numa sombra que ainda perdura. Um deles foi a ascensão dos solários, camas de bronzeamento artificiais que mimetizam os efeitos da exposição solar, permitindo manter essa “cor saudável” todo o ano. Hoje, sabemos dos seus perigos.
Um meta-estudo publicado no British Medical Journal, que analisou 27 estudos sobre cancro de pele realizados entre 1981 e 2012, concluiu que o risco de melanoma sobe 20% com a utilização de solários, podendo duplicar quando essa exposição ocorre antes dos 35 anos. Mas sol ao natural é bom, certo? A exposição solar direta é essencial na produção de vitamina D, mas mais não significa melhor. Em média, 15 a 20 minutos de exposição solar, duas a três vezes por semana, são suficientes. Exposições prolongadas ao sol não só não produzem mais vitamina D, como a podem destruir por foto-degradação. Parte da radiação solar vem sob a forma de raios UV, responsáveis pelo envelhecimento precoce da pele (rugas e perda de elasticidade) e, no caso de exposições prolongadas sem proteção, danos diretos e cumulativos ao nosso ADN. Sim, cumulativos. A vossa pele não esqueceu aquele escaldão na Nazaré nos anos 90. Por tudo isto, venho apelar ao fim desta Segunda Idade do Bronze, ao culto do sol ininterrupto, ao orgulho ridículo no escaldão; abracemos a moderação, amemos o protetor solar (de uso diário no rosto), demos uma oportunidade à sombra, porque o poder do sol está em aproveitá-lo na dose certa, à hora certa.