Irrita-me a infantilização das emoções! Ainda mais nesta fase da nossa evolução, em que a chamada “inteligência emocional” está amplamente estudada e reconhecida como válida. Mesmo assim, continua-se a menosprezar o valor das emoções. Em vez de lidarmos com elas de frente, com o que elas são, boas ou más, derivámos o nosso foco para expressões fúteis como: “Brilha muito”, dedicado a alguém que faleceu, como se fosse uma coisa inteligente e amorosa que abrandará o sofrimento de quem fica em dor (ou, nas redes sociais, para dar a ideia do quão fofinho/a se é). Pode-se falar também do ainda muito na moda “não chores”, uma forma simpática de dizer: esquece lá isso porque eu não me sinto confortável com a expressão da tua tristeza e prefiro que a guardes para ti, fingindo eu que, pelo facto de não chorares, a tua tristeza já não existe. Tenho a impressão de que isto resulta da mistura do conceito de optimismo (que é aplicável ao futuro, uma postura optimista, com ideias como o “Vai ficar tudo bem”, que realmente nos permitem enfrentar futuros desafios com uma perspetiva de sucesso) com “desculpismo” (quando se tenta encarar positivamente eventos negativos do passado, enganando-nos e deturpando as nossas memórias; uma espécie de consolo falsificado). Aceitar que nem tudo na vida é bom é uma obrigação imposta pela própria vida.
Mas há mais coisas que me irritam solenemente: usar expressões que, no fundo, nem se sabe o que querem dizer, como por exemplo: “irrita-me solenemente”! Mas afinal o que quer isto dizer? Há opções? Pode uma coisa irritar solenemente, irritar casualmente , irritar informalmente ou irritar desorganizadamente? Ou então, e esta está no topo, a expressão “Gratidão”… É tão fútil, tão sem sabor, tão desgastada que já não quer dizer nada. Mas usa-se e usa-se e usa-se e usa-se, para tudo e mais alguma coisa.
Finalmente, irritam-me as pessoas que andam irritadas e que escrevem coisas irritadas sobre o que as irrita! Ninguém quer saber! Por isso, se leu este texto todo, espero que não se irrite por ter perdido o seu precioso tempo.