Va Pensiero “Voa pensamento nas asas douradas”

11 Dezembro 2023
Texto

Ana Narciso

Neste tempo de memória com história e de recordações em volta da celebração dos 50 anos do 25 de Abril, surgiu-me a importância da música, mais concretamente, música de intervenção. Há um músico que se destaca, imediatamente – Zeca Afonso -.

Há mais, mas este foi essencial, porque foi conhecido e reconhecido pelos jovens e menos jovens. Todos cantarolavam “Venham mais 5”, “Eles comem tudo”. Uniam os jovens, hoje sexagenários, alguns deles não sabendo muito bem o significado do que estavam a cantar (eu incluída).

Os espirituais negros nos Estados Unidos foram usados como uma forma de confronto contra a opressão e a escravatura. Outros cantores como a Joan Baez arrebatou plateias com “We Shall Overcome” ou “Blowing in the Wind” (letra de Bob Dylan).

A música pode ser um veículo poderoso para reafirmar a identidade cultural, destacando a resiliência de um povo perante adversidades, opressão de ditaduras ou injustiças sociais. Poucos serão insensíveis ao magnífico “Va, pensiero, sull’ali dorate”(Voa pensamento, nas asas douradas). Esta Ópera de Verdi é muitas vezes considerada um hino de liberdade e resistência, e tornou-se uma das mais conhecidas e amadas composições do extraordinário compositor Italiano Giuseppi Verdi. “Va Pensiero” ocorre no terceiro ato e é cantado pelo Coro dos Escravos Hebreus que foram deportados para a Babilônia (hoje Iraque) pelo Rei Nabucodonosor. Na canção, os escravos expressam a sua tristeza e as saudades da terra natal.

Entre 1842, época da estreia desta peça e 2023 parece que o tempo parou com os mesmos problemas. Tantos desalojados, tanto sofrimento. “Voa, pensamento, nas asas douradas.” Voa e traz mais paz e mais tranquilidade. A música tem este poder de nos transportar e de aliviar tensões que se adensam todos os dias. As deslocações forçadas ou não transformam a nossa ligação ao país. Quem está fora de Portugal sente como ninguém, um Cante Alentejano, um fado de Amália ou um Vira do Minho. Sentimo-nos em casa. É um sentimento de pertença que nos une. O mesmo se passa com “Grândola”. Lágrimas escorrem sem conseguirmos evitar. É a Música libertadora, é a melodia que marcou, também, o 25 de de Abril e toda uma geração.

Em jeito de conclusão: não me falem mal do Ronaldo, é o meu menino de ouro conhecido em todo o mundo; basta só pronunciar Portugal. Grândola vem logo a seguir e depois Amália. E voam, voam. E cantamos, porque cantar faz bem a tudo.

Boas festas, E Voem, Voem nas asas douradas do pensamento

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