Cátia Beato

Vender Bifanas como a Cristina

26 Out 2023

Sinto que voltei aos tempos em que a agenda de todos os média nacionais era sobre os casos diários de covid-19, mas agora o assunto é a habitação. Os valores apenas sobem. E agora? É suposto também ficar isolada em casa, colocar uma bandeira na minha varanda e dizer que vai ficar tudo bem?! Onde está a “Cultura do Cancelamento”? Opá! Cancelem o Costa, a Floribela, e até a Popota, mas não a minha vida adulta.

Quando somos pequenos apenas queremos crescer e ser adultos, como os nossos pais. Mas os meus pais com vinte e poucos anos compraram uma casa. Eu já caminho mais perto dos trinta anos, e se quiser dizer que resido fora de casa, é porque estou a viver numa tenda no jardim deles. A habitação está a tornar-se uma utopia na vida das pessoas e eu não quero viver na minha imaginação.

Os jovens têm de ser formados, mas não recebem um salário que seja digno. Mas também não podem ser muito formados, pois deixam de ser qualificados a trabalhar, por exemplo, no Continente. Querem pessoas com experiência, mas não querem dar estágios. Para procurar oportunidades de emprego na sua área, muitos dos jovens têm de se deslocar para as grandes metrópoles, mas habilitam-se a pagar 200€ por um beliche no chão de uma garagem que partilham com mais três pessoas. Isso, ou então gastar o ordenado todo na renda de um T0 e passar a fazer refeições apenas de bolacha-maria e água da torneira. Um futuro muito promissor, não é verdade?

E depois disfarçam os problemas com “migalhas”. Por exemplo, o retorno das propinas por cada ano de trabalho, o prolongamento do IVA 0 e passes gratuitos para pessoas até aos 23. Como se o problema fosse apenas as condições de vida dos jovens adultos.

A andar assim eu vou comprar uma roulotte e abrir um negócio de bifanas como a Cristina Ferreira nos disse na sua palestra motivacional, há dois anos. Não é algo difícil de fazer e, como o Gordon Ramsay já publicitou a bifana tradicional portuguesa ao resto do mundo, cada vez mais os turistas vão procurar esta iguaria quando vierem visitar o nosso país. Ficamos sempre a ganhar.

Uma ideia, levem para o mundo os Peixinhos da Horta. Assim, abrimos um género de cadeia de fast food. “Peixinhos da Horta com puré”, “Peixinhos da Horta com molho de alho e salsa”, por exemplo. Sou, ou não sou, um génio?

Porém, antes de terminar, eu quero pedir desculpa. Era suposto este ser um texto leve e engraçado. Tentei fazer algumas piadas, mas eu já não sei se hei de rir ou chorar sobre este assunto. Só sei que quando me perguntam se quero ficar em Portugal, eu digo que sim porque realmente gostava de fazer vida no meu país. Porém, eu já estou a abrir os meus horizontes para o resto do mundo.

Em último caso, vou morar para a parte rural do Japão e viver da agricultura até aos 120 anos. A mulher mais velha do Japão tem 116 anos, agora pensem. Lá não devem de viver com condições como as nossas.