Armindo Vieira

Achegas para a história local (10) – A luta pela diocese de Leiria (III)

14 Set 2023

Vamos com este texto concluir a pequena análise que temos vindo a fazer à luta iniciada pelo padre Júlio Pereira Roque (Jupero) pela restauração da diocese de Leiria, luta desenvolvida em O Portomozense e iniciada na edição 244 de 28 de Novembro de 1903.

Depois de salientar o facto de haver outros jornais da região e até nacionais darem relevo à sua luta pela restauração da diocese de Leiria, Jupero escrevia na edição 246 de “O Portomozense”, datada de 13 de Dezembro de 1903: “É fora de toda a duvida que a reintegração do Bispado seria a coroa dos progressos da cidade e districto, debaixo do ponto de vista religioso e commercial”.

Mais adiante acrescentava que “é mister, portanto que todos aqueles que são amantes da sua terra e dos seus progredimentos, ajudem, ou, ao menos, manifestem sem mal entendidos receios ou inexplicáveis tibiezas, a sua plena adhesão ao alvitre que aqui estamos defendendo com desassombro, há quatro semanas”.

Além disso, entendia que o clero estava a apoiá-lo na luta, uma vez que escrevia: “o clero mostrando a sua aquiescência a esta ideia, não mostra que esteja, por qualquer forma, indisposto ou descontente com os seus superiores hierarchicos, a quem profundamente respeitam, nem tampouco que queira melindrar os seus virtuosos Prelados”.

Nesta luta empreendida pelo padre Pereira Roque e outros sacerdotes diocesanos de Leiria, era justificada também a distância existente para com o bispado lisbonense, sendo difícil muitas vezes a resolução rápida de vários problemas. “Além de que, é um facto conhecido que, algumas vezes, ha casos urgentes que reclamam a immediata intervenção ou decisão do Bispo, succedendo não poucas vezes, que, por motivo da distancia, incommodo de viagem e outras razões mais ou menos plausíveis, se deixa de recorrer a este meio, advindo d’aqui não poucos inconvenientes”.

Mas, a luta do padre Júlio Pereira Roque manteve-se em “O Portomozense” por bastante mais tempo, sendo que a ele se juntou um pouco mais tarde o padre José Ferreira de Lacerda, de Leiria, que em 1914 criou um jornal, “O Mensageiro”, propositadamente para reforçar esta luta. Jupero passou também a colaborar nesse mesmo jornal, com o mesmo propósito que tinha tido em O Portomozense.

Tratou-se de uma luta que durou alguns anos, mas a Diocese de Leiria, que havia sido fundada em 1545, pelo Papa Paulo III a pedido do Rei D. João III, foi extinta em 1882 pelo papa Leão XIII, foi restaurada em Janeiro de 1918, por decreto pontifício assinado pelo Papa Bento XV.

O primeiro bispo da diocese restaurada, foi D. José Alves Correia da Silva, nomeado em 15 de Maio de 1920 por decreto promulgado pelo papa Bento XV.