Ser jovem não me define. É uma circunstância, momentânea, natural e com prazo de validade. É uma condição que influencia, em parte, o raio de ação, como qualquer outra característica pessoal. Não é, nem deve ser, a única temática que trago à discussão pública.
O ónus das decisões políticas encontra-se, maioritariamente, num perfil. E uma mulher jovem não é esse perfil. Em novembro do passado ano, num encontro entre a então Primeira-Ministra da Finlândia, Sanna Marin, de 37 anos, e a então Primeira-Ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, de 43 anos, um jornalista, num momento oficial, perguntou-lhes se se terão encontrado por terem idades parecidas. Imaginemos duas mulheres, as duas mais jovens a assumir um cargo desta natureza, com uma equipa para gerir, um país para governar, milhões de vidas que influenciam com as suas decisões diárias, reduzidas à sua idade.
Ser-se jovem, na política como em qualquer outra esfera, continua a ser desafiador. Haver um espaço público para se discutir a juventude e a juventude na política é essencial. Mas não criemos confusões. Criar um espaço para discutir a juventude é essencial, criar um espaço onde se coloca a juventude, autocentrada apenas nessa pequena parte das suas vidas, é castrador.
Líderes políticos jovens são expectados falarem sobre juventude, como se a dimensão cognitiva nos primeiros trinta anos de vida apenas a isso permitisse. Desenhar políticas públicas, envolvendo a sociedade civil, tendo em conta os resultados para as variadas faixas etárias é fulcral ao seu sucesso. Mas hoje, aos jovens, cabe apenas uma parte do processo e, aquela que parece a liberdade dada, é condicionada até à idade aceitável para um lugar “à mesa dos adultos”.
Por isso, põem-nos, e pomo-nos, nesta caixinha. Na caixinha onde se fala de juventude, dos problemas da juventude, do futuro da juventude, como se a juventude fosse a única temática que a todos nos apoquenta. Não é.
A falta de professores, um SNS a ruir, uma economia cronicamente débil, um estrangulamento fiscal, um mercado imobiliário incompatível com os rendimentos médios, as condições desumanas para a terceira idade, a ausência de apoio à cronicidade, a falta de educação para a inteligência emocional, a falta de voz dos portadores de deficiências, as disparidades de oportunidades, as condições socioeconómicas atuais, estas são as temáticas.
Ser-se jovem, com a energia acutilante que dessa condição advém, deve passar por ser-se a voz de que não a tem, e gritar a injustiça premente enquanto a ingenuidade assim o permitir.
Muito agradeço o espaço público para se falar de juventude, mas deixem-me usar a voz para o que me apraz.