Como muita gente sabe a Diocese de Leiria foi criada em 1545 pelo Papa Paulo III, sendo depois extinta em 1882 pelo Papa Leão XIII. Só mais tarde em 1918, após uma acesa luta e inúmeros pedidos, foi restaurada por decreto pontifício assinado pelo Papa Bento XV.
Serve este preâmbulo para dizer que o semanário O Portomozense, pela pena de Jupero, pseudónimo do padre Júlio Pereira Roque, foi um grande lutador e impulsionador, talvez o primeiro órgão de comunicação a escrever nas suas páginas a necessidade de se restaurar a Diocese de Leiria.
O primeiro artigo relacionado com este assunto, foi publicado na edição número 244, datada de 28 de novembro de 1903, daquele semanário e tinha por título O nosso Alvitre, com o sub título “A restauração do bispado de Leiria”. Apelava essencialmente ao clero deste concelho e, ao mesmo tempo, de toda a região para o assunto.
Neste primeiro artigo o autor começava por apelar «para o valioso concurso de todas as classes e posições sociaes e especialmente para o clero» que pelo prestígio, união e «pela nobreza e magnitude da causa – que é do máximo interesse religioso – deve tomar a iniciativa para a consecução do Bispado de Leiria».
Depois de referir que as tradições deste bispado eram «tão benemeritamente honrosas», Jupero salientava que o clero «d’este concelho está intimamente disposto a trabalhar com perseverança, harmonia e união, como exige a gravidade da empresa patriótica e religiosa».
Também o clero do concelho de Leiria, tal como «o dos restantes concelhos que pertenciam ao Bispado», não pode deixar de acompanhar «a campanha justa e sympathica» que o digno clero do concelho de Porto de Mós, está «com o firme propósito de continuar, contando com o auxilio e cooperação dos collegas dos outros concelhos, a quem compete trabalhar com não menos dedicação e sacrifício…», apontava de seguida que «grandes interesses religiosos advirão da consecução do nosso desideratum».
O sacerdote previa que a «única objecção» para entravar a sua campanha seria «a opposição dos Prelados de Lisboa e Coimbra», embora nada houvesse a recear «do virtuoso e austero Patriarcha de Lisboa» porque «não julgamos o Eminentissimo Prelado lisbonense capaz de se oppôr a uma causa a favor da religião». Para isso contava-se com o empenho do «seu bondoso Vigario Geral, illustre filho de Leiria, a quem S. Eminencia não será certamente desagradável».
O padre Júlio Roque afirmava que o «Venerando Bispo-Conde (de Coimbra), não será egualmente adverso á restauração do Bispado: a sua edade e a sua reconhecida dedicação á causa religiosa não dão margem a suppôr a opposição do sr. D. Manuel de Bastos Pina a uma causa santa e nobre».
Voltamos ao assunto.