Realizou-se no passado dia 11, na Casa da Cultura de Mira de Aire, o 15.º Congresso Nacional Radiodifusão, organizado pela Associação Portuguesa de Radiodifusão (APR). Esta edição foi um recorde no «número de rádios apoiantes», com um total de 102, segundo adiantou o presidente da APR, Luís Mendonça. Participaram cerca de 130 congressistas, um número que faz deste um dos congressos mais participados, adiantou ao nosso jornal fonte da organização. Pedro Vazão, presidente do conselho de administração da Cincup (proprietária d’O Portomosense e da Rádio Dom Fuas), disse que, enquanto coorganizador, ficou «muito contente por se ter batido o recorde de rádios apoiantes e de pessoas presentes».
Na sessão de abertura, o presidente da Câmara de Porto de Mós, Jorge Vala, começou por recordar um pouco da história comum de todas as rádios que iniciaram a atividade como rádios-pirata. «Surgia então a informação local, as notícias da terra, discos pedidos, conversas ao telefone, a informação desportiva local e relatos de futebol com emissões de exterior improvisadas», recordou, frisando que «estes foram elementos fundamentais de ligação entre as pessoas da rádio e as pessoas da comunidade, uma relação de proximidade impossível de acontecer nos media de cobertura nacional».
«Verificamos que estamos perante um setor que vive na incerteza, com reduzida capacidade e flexibilidade financeira e, consequentemente, com dificuldades para investimentos na sua modernização, uma vez que os apoios são insignificantes e, infelizmente, as vendas publicitárias são manifestamente insuficientes», disse o autarca, alertando para o «desaparecimento gradual das rádios de cariz local». Jorge Vala diz considerar «fundamental um reforço efetivo dos apoios estatais para aquisição de equipamentos e operacionalização das emissões». Além disso, acrescenta, também as rádios têm trabalho a fazer: «É necessário aprofundar o trabalho virado para a sua área geográfica, reforçando o papel de proximidade e a ligação à comunidade, deixando cair para segundo plano os programas exclusivamente de música», salientou. O presidente do Município disse ainda estar bem ciente «da importância da nossa rádio local, a Rádio Dom Fuas» e que, as rádios locais, e em particular esta, podem contar com o seu apoio.
Em representação do ministro da Cultura esteve Sérgio Gomes da Silva que, em nome de Pedro Adão e Silva, felicitou «a APR pelo congresso» e agradeceu o «labor ao longo destes muitos anos e o contributo que tem dado para a rádio em Portugal e também para as políticas públicas». Sérgio Gomes da Silva frisou o «contributo extraordinário da rádio para a Cultura»: «Havia eventos culturais que, no passado, só podiam ser usufruídos por um conjunto muito pequeno de pessoas, que puderam democratizar-se [através da rádio]», disse. O representante sublinhou ainda «a capacidade que, ao longo destas décadas, a rádio foi tendo de se adaptar, de se ajustar, de ir ao encontro das necessidades da sociedade». Quase a terminar, Sérgio Gomes da Silva referiu que a rádio «enfrenta grandes desafios, pelo desenvolvimento tecnológico, pela alteração dos hábitos de consumo, pela dimensão económica, pela sua capacidade ou não de financiamento» e que estes encontros para reflexão dão «importantes contributos para aquilo que venha a ser a conceção futura de políticas públicas».
“Serviço público tem de ser pago de forma justa”
Coube ao vice-presidente da assembleia geral da APR, Nuno Reis, o encerramento do congresso, tendo este salientado que, «num cenário destes, em que há tantas reivindicações e tantos pedidos para aumento da despesa pública», com manifestações e exigências de «professores», «auxiliares de ação educativa», «médicos», «administradores hospitalares», «enfermeiros», entre outros «é difícil» que as rádios consigam fazer-se ouvir e consigam os seus objetivos de melhor financiamento. No entanto, Nuno Reis acredita que, neste congresso, foi dado «um exemplo de união». «Não sei qual é a bala de prata que devemos disparar, mas essa bala de prata tem que ser disparada por todos ao mesmo tempo e em conjugação», frisou. «Não haja dúvida que prestamos um serviço público que tem de ser pago de forma justa», concluiu.
Foto | Bruno Sousa
Leia aqui o artigo sobre o painel Rádio – Novos Paradigmas (Novos Conteúdos/Novos Mercados/Novos Hábitos de Consumo) que esteve em destaque no 15.º Congresso Nacional Radiodifusão
Leia aqui o artigo sobre o painel subordinado ao tema Rádio – Os desafios da gestão e novos modelos de negócio das empresas de Rádio em tempo de crise
Leia aqui o artigo sobre Rádio e Novos Territórios do Podcast, o primeiro painel do 15.º Congresso Nacional Radiodifusão