Antes da escrita, as palavras eram apenas ar. Vendo bem, escrever não é mais do que desenhar um sopro de ar em deslocação. Só depois da escrita é que, finalmente, o mensageiro se pôde afastar da mensagem e só depois da escrita é que a mensagem pôde durar mais do que quem a transmitiu.
Antes de existirem os livros, as palavras já tinham sido registadas na pedra, em barro, madeira ou metal, mas só depois da invenção do papiro no antigo Egipto, é que finalmente, primeiro em rolo e depois na forma de livro, foi possível torná-las num objecto flexível e preparado para a viagem e para a aventura.
O primeiro lugar onde se começaram a acumular documentos escritos, na altura apenas em rolos, terá sido em Alexandria. Na sua biblioteca, os faraós ptolomaicos tentaram juntar todos os textos conhecidos. A seu favor, os faraós, tinham o monopólio da produção de papiro, material que era produzido a partir de uma planta, com o mesmo nome, que crescia nas margens do Nilo. Anos mais tarde, quando o mundo grego florescia, em Pérgamo (actual Turquia) alguém teve a ideia de criar uma biblioteca que concorresse com a maior e mais antiga. Os egípcios, que não queriam abrir mão da exclusividade da acumulação de conhecimento, de imediato proibiram a exportação de papiro para aquele destino. Privados de ter onde escrever, os gregos deram largas à imaginação e começaram a tratar peles de animais de uma forma diferente, mergulhando-as em cal e raspando-as depois com lâminas para lhe reduzir a espessura. Neste processo inventaram o pergaminho que, além de durar mais tempo que o papiro, permitia que se escrevesse nas duas faces. A acumulação de pergaminhos levou à invenção do livro e com ele, a propagação de conhecimento tornou-se mais fácil.
O acesso à escrita e à leitura começou por ser muito restrito. Com o passar dos anos e com o reconhecimento do poder que consistia em saber ler e escrever, passou a haver quem pagasse para que o próprio, ou os seus filhos, tivessem acesso a esta maravilhosa capacidade. O ensino destas artes foi designado pelos gregos como paideia, que significa educação, e que originou a palavra enciclopédia e mais tarde Wikipédia.
Na viagem que a nossa espécie fez das cavernas até aos confins do universo, a invenção e o domínio da escrita, foi um dos saltos mais decisivos. Até que chegássemos a esta página d’O Portomosense, foram necessários séculos de criatividade, inúmeros enganos e correcções, momentos geniais entremeados com queimas de livros, muito estudo e dedicação.
As bibliotecas, enquanto espaços onde se guardam livros, conhecimento, imaginação e arte, sempre foram lugares especiais no mundo dos humanos.
No Juncal há uma extensão da Biblioteca Municipal de Porto de Mós. A minha amiga Catarina, amiga da escola primária, assegura o funcionamento desse espaço e ainda divide o seu tempo com a Biblioteca principal na sede do concelho. Contacto-a sempre que um livro me desperta um interesse especial. Prontamente verifica se este faz parte do espólio e trata de todos os procedimentos até que eu o possa folhear. A última encomenda que lhe fiz, e que já estou a ler, é “O infinito num junco” de Irene Vallejo. Fala de livros e de bibliotecas. Estou a adorar.
Há quanto tempo não lê um livro? Há quanto tempo não visita a Biblioteca Municipal?.