Beatriz Simões

Feliz Ano Novo, ou mais um como os últimos oito?

14 Jan 2024

O início do ano é sempre uma altura inspiradora. Doze passas que nos fazem ter esperança num ano melhor, e promessas que se cumprem até meados de fevereiro. Depois fica frio, ou calor, ou chove, ou é Páscoa, ou é feriado. Mas em janeiro é que é. O ser humano é naturalmente adverso à mudança, há conforto no conhecido, ainda que o conhecido seja desconfortável. Ora que o cenário político não é substancialmente diferente. Oito anos volvidos de governação socialista, colapsada sobre si própria em cenário de maioria absoluta. Mas, nada temam, porque em março é que vai ser. Por norma o cenário de eleições é assustador, mas entusiasmante, porque envolve, ou pode envolver, mudança.

Acontece que, este 10 de março, é diferente. Porque um dos candidatos é, na verdade, um político com provas dadas. Vejamos, provou que faz política por WhatsApp, apesar de depois não se lembrar muito bem, mas depois afinal lembra-se. Provou que sabe definir a construção de aeroportos, mas afinal não era ali, em calhando enganou-se a assinar o despacho. E provou que sabe trabalhar em equipa. Metade da equipa despediu-se, e ele despediu-se também. Solidariedade em cometer asneira acompanhada de solidariedade em ir embora. Mas nada temam, porque, afinal, o seu desígnio é ser Primeiro Ministro. Serviu como Ministro? Bom, se calhar não, ou pelo menos o próprio não achou, segundo me recordo demitiu-se.

Mas em março é que é. Em março é que se começa a fazer política com integridade. A respeitar as instituições democráticas. Qual Ano Novo, em março é que é. Por isso, para março só se pode desejar o que se deseja para o começo do ano. Prosperidade, tal como a situação económica portuguesa não o é. Paz, tal como metade das famílias portuguesas, pobres, não a têm. Felicidade, tal como as classes profissionais, como médicos e professores, não são. Saúde, e que saúde tem a Saúde portuguesa, com hospitais fechados, maternidades fechadas e um SNS a colapsar. Permitam-me, ainda, desejar muitas oportunidades. Oportunidades como os jovens de hoje não têm. Sendo porque não conseguem ter teto para viver, têm uma escola pública que lhes falhou e falha e um sistema fiscal que nem lhes dá oportunidade de se porem de pé. Bem sei que a situação atual é sempre mais confortável do que a nova, mesmo que ainda assim desconfortável. Mas até quando? Quantas grávidas têm de perder os filhos? Quantos anos de atraso de aprendizagens têm de ocorrer? Quantos mais pessoas se têm de tornar sem abrigo ? Quantas mais famílias trabalhadoras têm de ser pobres? Quantos mais milhões têm de custar as casas? Porque, em janeiro de 2024 , a situação já não é desconfortável . É incomportável, impossível, injusta e, sinceramente, vergonhosa. As minhas passas digo-vos quais são: que se possa fazer política justa, moderada, solucionadora, centrada nas pessoas, próspera, digna e respeitosa.

Pois se há tempo para ser esperançosa é este. Talvez guarde as restantes cinco passas para dias piores, que isto da esperança, como sabemos, é capaz de durar pouco. Se o que isto da esperança, como sabemos, é capaz de durar pouco. Se o Natal é quando o Homem quer, pois que o “Ano Novo” também o seja.