E já lá vão cinquenta anos. É impossível não fazer um balanço da nossa vida comum desde o 25 de Abril de 1974. Muita coisa mudou. O mundo é diferente e o país também. As eleições realizadas há pouco mais de um mês mostraram-nos que o perfil político dos portugueses não é granítico nem inamovível.
A história avança em movimentos pendulares. Após um ciclo de nacionalismo exacerbado não foi estranho que o fervor identitário sofresse uma quebra. Depois de consumirmos todas as nossas energias voltados para os territórios ultramarinos, foi com naturalidade que abraçamos o projecto europeu de paz e prosperidade. Saídos de uma ditadura conservadora e anti-comunista, seria normal que a geração seguinte preferisse um progressismo inspirado nos valores da esquerda. A insatisfação com algo alimenta a busca pelo seu contrário. De forma simétrica, observamos isso no actual perfil eleitoral dos países do antigo bloco de leste. É na memória da sua experiência sob o domínio soviético, que a direita assenta a sua enorme força eleitoral.
No passado dia 10 de Março a esquerda não foi além de uma minoria dos votos, o que não sendo inédito, mostra algo de novo. Uma análise mais fina dos resultados permite concluir que as gerações mais novas votaram principalmente à direita. Por oposição, são os mais velhos que passaram a ser a base eleitoral da esquerda. Serão estes resultados o sinal de uma mudança de ciclo? Poderemos a partir daqui contar com um definhamento gradual da predisposição dos portugueses em votar à esquerda?
Só conversando com os mais novos é possível entender a forma como eles interpretam as propostas dos partidos políticos. Quem hoje tem menos de quarenta anos, recorda-se do PS no poder na maior parte da sua vida (cerca de 7600 dias num total aproximado de 10 300). Além disso, em mais de metade do tempo em que a governação não foi à esquerda (cerca de 1600 dias num total de 2700) quem governou de facto o país foi a Troika chamada pela esquerda.
E qual é o resultado de tantos anos de políticas de esquerda? Os nossos salários são dos mais baixos da UE, um quinto dos portugueses vive na pobreza, os impostos batem sucessivos recordes e os serviços públicos não satisfazem. Estes jovens não viveram o entusiasmante crescimento económico do cavaquismo e desde que dão atenção às notícias, que só ouvem falar em crise, estagnação económica e, ao contrário do PS, não se esqueceram de José Sócrates. Não será por isso de estranhar, antes de lamentar, que 30% dos nascidos em Portugal desde 1985 tenham emigrado em busca da prosperidade que não encontraram cá. Perante esta triste folha de serviço não podemos ficar espantados com a preferência dos mais novos para com os partidos da direita.
Nos próximos actos eleitorais veremos se a mudança que ocorreu em Março passado é o início de uma nova tendência ou foi um fenómeno pontual. Olhando para a idade dos votantes à direita, apostaria que estamos a assistir a uma viragem do pêndulo da história.